Mestres de bateria contam como é o dia a dia depois que o carnaval termina

04/12/2009 12:25
Mestre Casagrande, da Unidos da Tijuca, ganha a vida como taxista.
Sargento do Corpo de Bombeiros comanda bateria da Vila isabel.
TV Globo
 

Mestre Casagrande comanda a bateria da Unidos da Tijuca (Foto: reprodução/ TV Globo)

 

As escolas de samba têm no máximo 82 minutos para se apresentar e, dentro desse tempo, os mestres de bateria têm que dar duro para sincronizar seus ritmistas para um desfile perfeito. Mas, e depois, o que fazem esses mestres? Afinal a quarta-feira de cinzas chega para todos, até para quem, aparentemente, "vive" da folia.

O mestre Casagrande, tem 46 anos e está há 31 na Unidos da Tijuca. Quando não está envolvido com deveres da escola, ele é Luiz Calixto Monteiro e roda pelas ruas do Centro e da Zona Sul com seu táxi. "Faço uma média de 8 horas a 9 horas por dia no táxi."

Antes de ser taxista, Casagrande fez de tudo um pouco: já foi feirante, entregador de jornal, trabalhou em supermercados, foi camelô. "Trabalho desde os 14 anos, já fugi muito do 'rapa' como camelô." Mas fazer carreira só mesmo na Unidos da Tijuca: começou como ritmista até chegar a mestre de bateria. Segundo ele, quando chegam os meses próximos ao carnaval, não há como conciliar o serviço de motorista com o de mestre de bateria e o táxi acaba virando carro de passeio.

TV Globo
 

    Átila Gomes "rege" a bateria da Vila Isabel (Foto: Reprodução/ TV Globo) 

 

É ajudando as pessoas que trabalha o mestre Átila Gomes, de 40 anos, da Vila Isabel. Há 20 anos, ele é sargento do Corpo de Bombeiros. No momento, está trabalhando internamente na corporação, mas já passou 12 anos atuando em nas ruas em resgates, e principalmente em colisões.

Segundo o mestre, não há emoção maior do que tirar uma criança viva das ferragens de um carro, mas a alegria de estar no comando da bateria também é incomparável. "Na rua, você chora de felicidade com um resgate, mas na avenida você ri de emoção por estar na frente daquela bateria", diz ele.

A vida dura do dia a dia violento carioca é esquecida quando está dentro da quadra. Átila – que não gosta do título de mestre – diz que usa a bateria e os ensaios para descarregar as tristezas. “Enquanto uns amigos vão para a bebida ou fumam, eu prefiro cantar e ensaiar. Esqueço tudo da minha vida quando estou na bateria, a emoção é muito grande”, conclui.

Já o mestre Thiago Diogo, da Porto da Pedra, diz que desde que começou como mestre na escola não consegue tempo para trabalhar com nada que não seja relacionado ao samba. “Dou aula de percussão para grupos, faço rodas de samba, workshops. Assumi a função de mestre dos ritmistas e só me dedico a esses meus filhos”, conta.

Atualmente, conta com a ajuda que a escola vem dando. “Basta para sobreviver, ninguém pode reclamar”, disse o jovem mestre, de 28 anos. Antes de assumir o posto, trabalhou com administração de hospital e foi socorrista do Samu.

A necessidade de sustentar duas filhas, de 10 e 11 anos, faz com que o mestre Marcone, há 23 anos na Imperatriz e 3 como mestre, batalhe sempre um serviço extra como eletricista, mas quando chega a época de carnaval, a agenda aperta: “Tenho minhas obrigações e responsabilidades com a escola. Assumi o compromisso de dar uma cara nova à bateria, quando me deram a oportunidade”.

O mestre Marcone diz que tentar levar a vida com o samba, mas, quando o orçamento pede, os trabalhos como eletricista ajudam a manter as contas em dia. “A gente ama o samba, mas têm outras necessidades na vida, não vivemos só de samba”, conclui.

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