A Vila de Noel e Martinho

09/09/2009 11:32

Defendi aqui, meses atrás, que a Vila desistisse da idéia de "encomendar" seu samba a Martinho. A escola pensava em abrir mão do concurso. Argumentei que o mestre poderia "errar a mão" na sua composição. Caso isso acontecesse, a escola teria outras opções.

Não aconteceu. Martinho acertou a mão. Fez um samba maravilhoso que sobra na turma. Fica até difícil comentar os demais. Com todo respeito que os poetas da escola merecem. Martinho foi além, fugiu do lugar comum com um talento incrível. É um samba. É o samba. Talvez o melhor do ano. Talvez o melhor da década. Isso tudo porque ainda "podaram" a criatividade do mestre cortando os contra-cantos revolucionários da segunda parte. Eles mereciam permanecer. Arte é inovação. A escola que encontrasse um jeito de cantar na avenida.

Ainda assim Martinho deu uma aula de como compor um samba e não um resumo de sinopse; de fugir das melodias já batidas; de dividir a obra sem a obrigação dos refrões de quatro linhas. É uma alegria ouvir um samba assim.

Não me cabe aqui discutir se a obra foi inspirada num samba anterior dele próprio. É uma questão que cabe a ele e aos herdeiros do antigo parceiro resolver. Analiso a obra apresentada. E essa me agradou em cheio. É a volta por cima de um dos nomes mais importantes da história do gênero samba-enredo. Um revolucionário. Isso faz bem à Vila e ao carnaval.

A safra, que sente a falta de André Diniz, tem sambas interessantes para a média do carnaval. O enredo ajuda muito. Mas não se pode estabelecer um termo de comparação com o de Martinho, que parte de uma proposta totalmente diferente. Como já escrevi muito sobre o samba do mestre, vou analisar os demais.

Pedrinho, Markinhos Poesia e Cláudio Emiliano

Samba melodioso, casa perfeitamente letra e música. Os versos descrevem o enredo com objetividade e alguma inspiração. Falta inovação, uma idéia diferenciada, um trecho musical totalmente novo.

Alexandre Fernandes, Geraldo Castro, Fábio Castelli e Fabinho do Cavaco

Gravação prejudicada pela interpretação do cantor. A melodia tem trechos interessantes, embora soe pouco criativa. A letra é bem clara e conta o enredo. Não gostei da expressão "overdose" no refrão.

Dedé  Aguiar, Eduardo Katata, Miro Jr. e Ivanízia

Se não fosse a "presença de Martinho" seria o grande favorito. É um belo samba. Melodia com trechos muito bonitos e diferentes. A Letra é inspirada e tem algumas boas sacadas. Parceria vem crescendo muito nos últimos anos.

Guilherme Benaion, Geraldo da Silva, Zé do Bié e Carlinhos do Peixe

Como a maioria, a letra tem suas qualidades. Falar de Noel é muito bom para quem é da Vila. Mas a melodia não acontece. 

Rafael Zimmermann, Guilherme Salgueiro e Márcio Hilário

Bela surpresa! Melodia sinuosa, valente e inovadora. Letra original, saindo do lugar comum. É renovação de boa qualidade para a Vila. Parabéns.

Haroldo Filho, Chico da Sueca e Sergio

Estilo antigo, com gravação cadenciada. Tem alguns bons momentos de melodia, mas escorrega numa letra irregular.

Kedek, Claudinho Orvalho, Bira do Banjo, Willian Defensor

Tem um refrão diferente e interessante. Procura, em seu desenvolvimento, caminhos inovadores - nem todos, entretanto, tão bonitos. Mérito pela ousadia.

 

Fonte: SRZD

Por: Eugênio Leal

—————

Voltar